Desde o ultimo dia 15, Machu Picchu voltou à mídia brasileira por causa da noticia da restrição a alguns pontos turísticos dentro da cidadela. O que, de verdade, me deixa chateada é que os textos, em sua grande maioria, foram de um barulho apocalíptico, mas bem pouco informativos. A sensação que eu tive foi estavam mais interessados em cliques do que na notícia em si.
Hoje então vou explicar sobre esta restrição feita pelo Governo Peruano através do Ministério da Cultura.
Não há restrição a Machu Picchu
Apesar de muitos meios anunciarem uma restrição a Machu Picchu, isto não é verdade. Está restrita a visitação de 3 pontos turísticos dentro do santuário. O que quer dizer isto?
Para quem não conhece ainda (e para ilustrar melhor), Machu Picchu é um parque, uma área de visitação. Muita gente ainda faz confusão com isto, principalmente porque muita gente, principalmente americanos, chama Aguas Calientes (a cidade mais próxima de Machu Picchu) de Machu Picchu City, daí a confusão da gente como se fosse uma cidade mesmo está armada.
Machu Picchu (ou o Santuário de Machu Picchu ou a Cidadela de Machu Pichu ou a Cidade inca de Machu Picchu) é uma área de 37mil hectares no topo de uma montanha. Bom, para entrar neste parque arqueológico é necessário pagar ingresso e fazer um tour de visitação por vários pontos da construção, os “pontos turísticos”. O que o Ministério da Cultura fez foi restringir a visitação de alguns destes pontos. A ENTRADA A MACHU PICCHU CONTINUA COM AS MESMAS REGRAS E ABERTA NORMALMENTE AO PUBLICO.
Dando um exemplo bem simples para exemplificar: Você vai ao Museu de Van Gogh em Amsterdam, mas está acontecendo uma reforma e você não consegue ver o Girassóis. Ou vai ao Louvre e nesta época uma parte do museu está fechado para o público. Seria mais ou menos isto.
A beleza do passeio, a emoção de chegar a Machu Picchu, a energia do lugar, as possibilidades de andar pela cidadela, tirar fotos inesquecíveis CONTINUAM IGUAIS.
Áreas restritas dentro de Machu Picchu
De 15 a 31 de maio de 2019, o Ministério de Cultura do Peru decidiu restringir 3 pontos da cidadela de forma experimental e temporal. Serão só 15 dias. E os pontos restritos não estão fechados ao público. Eles estarão abertos ao público durante três horas diárias.
Os pontos restritos de visitação são:
Templo del Sol
Era onde, provavelmente, realizavam cerimônias religiosas em honra de seus deuses. As duas janelas permitem ver o nascer do sol durante o solstício de verão e de inverno. Daí cogitam também que poderia ser um observatório astronômico.
Templo del Cóndor
Um exemplo de como os incas usavam as rochas de forma natural para construção de seus templos. Sobre uma gruta natural e aproveitando a rocha, a formação foi adaptada para ser as asas e, no chão, a cabeça do Condor, ave sagrada para os incas.
Piramide del Intiwatana
Peça talhada com diferentes faces, para que as sombras “expliquem” o movimento solar e as diferentes estações. Era um local de observações e medições de tempo.
Lembrando que é uma restrição teste. Posteriormente o Ministério de Cultura irá decidir se volta a restrição por tempo indeterminado.
Por que a restrição?
Machu Picchu está ruindo. Está colapsando.
Foram mais de 100 anos “esquecidos” entre as matas. Na década de 70, para se ter uma ideia, houve danos provocados por pouso de helicópteros no local.
Somente em 1983, Machu Picchu foi nomeado Patrimônio da Humanidade. Na época, devido ao terrorismo no interior do país, o número de visitantes era de 100.000/ano. Em 1991, até diminuiu, chegando a 77.000/ano. Em 2007, porém, tudo mudou. Machu Picchu foi votada como uma das “7 novas maravilhas do Mundo” e neste mesmo ano recebeu 800.000 visitantes em suas ruinas. Quase 10 anos depois, o número de visitantes chegou a 1.419.507 em 2016.
Sem infraestrutura, com acesso complicado, leis pouco duras, Machu Picchu colapsou pela primeira vez. A Unesco ameaçou incluir a cidadela na sua “lista negra” de locais com risco de desaparecer.
O governo peruano, então, reverteu a situação crítica com um plano de ação que será implantado ao longo de alguns anos. Em 2017, foram lançadas as primeiras restrições:
- Foi estabelecido dois horários de visitação (matutino e vespertino);
- Criou-se uma limitação de permanecia no local. O visitante poderá visitar o parque arqueológico durante 4 horas;
- Não é mais permitida a entrada a Machu Picchu SEM um guia;
- Cada guia pode levar um máximo de 20 pessoas;
- Proibido entrar com bebidas e alimentos, bastões de caminhada, bastões de selfie ou tripé de máximas, instrumentos musicais, carrinhos de bebês.
Agora, em 2019, é a vez da tentativa de “dar um descanso” para alguns dos pontos que estão correndo mais risco e/ou mais importantes. Sua experiência em Machu Picchu será prejudicada? Duvido muito. O lugar é incrível. E o que o governo peruano quer é mantê-lo incrível. Acho que mais prejudicial do que não visitar um ou dois pontos dos mais de 20 que existem no local, é visitar o local lotado, bagunçado, sujo, largado. Aí sim, a emoção será zero.
Que tipo de turismo estamos fazendo?
Muito tem se falado sobre o aumento do turismo mundial e da forma que estamos fazendo turismo. É algo mega lindo que o mundo esteja, por um lado, quebrando as fronteiras e conhecer um outro destino é também conhecer o outro, a si mesmo, nosso tamanho e responsabilidade nisso tudo.
Tem matérias assustadoras sobre o quanto o turismo está destruindo lugares, povoados, habitats. Aqui deixo uma só como citação.
A primeira vez que fiz (na verdade fizeram) minha mala, eu tinha 3 meses de idade. Sim, venho de uma família de viajantes e minha primeira viagem internacional foi em 1996, com 19 anos. Como era diferente… Posso ficar aqui falando horas super saudosista de um tempo que não volta mais, mas a saudade só aumentou ao ler o post incrível da Claudia Rodrigues, do Felipe, O Pequeno Viajante. Quer saber um pouquinho como era viajar há 20 anos? Vai lá. Vale muito a leitura!
Acho que a palavra chave das viagens de hoje (e do mundo de hoje, já filosofando) é conectar-se. O mundo anda tão virtualmente conectado, tão interessado na conexão com quem tá distante, em com quem anda se conectando que se esquece de se conectar verdadeiramente. Conectar-se com a terra, com o local que está visitando, conectar-se consigo mesmo e seus sentimentos naquele local, conectar-se com sua gente. Passada a euforia do momento atual, o que ficará são as conexões verdadeiras feitas e vividas. E isto não fica fora de moda. E é para isto que vale a pena viajar.
Mais sobre Cusco e Machu Pichu…
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2 Comments
Fernanda Marão
21/05/2019 at 13:05Oi, Manu e cups!
Acabei de chegar de Machu Picchu (estive lá final de abril) e posso ajudar no que você quiser neste post. Porém, lendo sobre as regras que você postou, infelizmente, nenhuma está sendo cumprida. Vamos a elas:
1. Foi estabelecido dois horários de visitação (matutino e vespertino);
Mais ou menos. As pessoas entravam na hora que chegavam. Nós tínhamos a visitação marcada para 9h mas pessoas com horários mais tarde (10h, por exemplo) estavam entrando antes.
2. Criou-se uma limitação de permanecia no local. O visitante poderá visitar o parque arqueológico durante 4 horas;
Não há controle nenhum do horário. Entramos e ninguém, nem a guia, nos falou sobre isso. Nem recebemos um adesivo ou coisa do gênero para limitar nossa estadia. A guia fez um tour com a gente de uma hora mais ou menos e depois nos largou dentro do parque para “conhecermos o local sozinhos”. Demos voltas e voltas sozinhos, perdidos, e fomos inclusive a este templo do Condor que ficará fechado.
3. Não é mais permitida a entrada a Machu Picchu SEM um guia; 4. Cada guia pode levar um máximo de 20 pessoas;
Vi muita gente sem guia, de boa, passeando como se estivesse no parque, com criança e comida. Só não sei se tinha excursão com mais de vinte pessoas, mas tinha muita gente. Estava cheio demais para um local que é tão importante para a humanidade.
5. Proibido entrar com bebidas e alimentos, bastões de caminhada, bastões de selfie ou tripé de máximas, instrumentos musicais, carrinhos de bebês.
Tinha tudo isso, juro. Pessoas comendo seus lencinhos (inclusive pegamos lixo de turistas franceses que abriram seus pacotinhos de cheetos e deixaram cair a tampinha), pessoas com bastões, guias com bastões pra apontar as coisas e dar tapinha em pedras, e, sim CARRINHO DE BEBE., bastão de selfie Juro, juro.
Ficamos encantados com Machu Picchu mas muito tristes com a forma como as regras para preservar o local simplesmente não são seguidas. Os visitantes não se importam e no parque não encontramos as regras que pensamos que teríamos de seguir.
Um beijo e obrigada pelas dicas. Usei muitas. A do soroche segui a risca e deu tudo certo!!!
beijos
Manu Tessinari
08/06/2019 at 10:20Fernanda!!!
Amei seu relato! Você não sabe o quanto é importante a gente ser alimentada com informações de vocês pós-viagem. Super obrigada!!! Eu, nas vezes que fui, era tudo bem restrito. Não podia nada!! Quanto a tudo que você relatou, eu fico muito triste. O Peru, como a maioria dos países sul-americanos, tem uma enorme dificuldade de entender que, para preservar, terá sim uma perda financeira. Para muitas pessoas, principalmente que vive a dureza da vida e que não teve a educação necessária, o turismo de massa é visto como algo maravilhoso e que eles querem “aproveitar” ao máximo, mesmo sem entender que estão “matando a galinha dos ovos de ouro”. As leis no Peru são muito pouco cumpridas, no geral, e infelizmente em Machu Picchu isto se repete. Acredito que o caminho seriam não leis verticalizadas, mas uma concretização da população quanto a importante e necessidade de preservação. Também acho que o governo deve criar alternativas de variação de renda para que o dinheiro tb não seja a “moeda de peso”contra o cuidado ao local. No mais, nós como turistas devemos fazer nossa parte, ne? Fico pensando quantas pessoas realmente não estão nem aí com a preservação dos lugares onde vão, afinal já deram “check”na lista-desejo, ja tiraram sua selfie e não vão voltar mesmo.
Muito obrigada por ter escrito um relato tão detalhado.
Beijos,
Manu