Eu sempre acho junho um mês especial. Acho que é pela queda da temperatura, pelas férias que virão e, principalmente, porque, depois do carnaval, este é o mês que temos mais datas legais para festejar.
Feriados são ótimos, claro, mas as Festas Juninas são, para mim, o melhor do inverno! Eu sempre gostei. Desde dos ensaios para apresentação da escola até as comidas, viagens e quentões. Gosto de tudo. E, como expatriada, claro que essas datas enchem meu coração de saudade e fico pela cidade caçando festa (e olha que tem!).
Mas fiquei pensando também que as Festas Juninas não são exclusividade do Brasil e resolvi que ia pesquisar e contar para vocês como são as Festas Juninas no Peru. Sim, elas existes e, em alguns estados, são muito importantes! Descobri também um monte de similaridade com nossos símbolos e tradições, apesar de serem expressadas de forma bem diferente.
Calendário de Festas Juninas no Peru
Dia dos Pais (terceiro domingo de junho)
Enquanto no Brasil todos estão sonhando com presentinhos e surpresas para o Dia dos Namorados, aqui no Peru a movimentação é toda para o Dia dos Pais. A data segue a tradição americana e é comemorada sempre no terceiro domingo de Junho.
Corpus Christi (data móvel mas comumente em junho)
Aqui no Peru, diferentemente do Brasil, não é feriado. Os festejos acontecem de forma normal no âmbito religioso, com missas comemorativas, mas há duas cidades bem turísticas que param para comemorar a data.
Corpus Christi em Cusco
Corpus Christi é uma das maiores expressões da religiosidade cusquenha. A festa começa no dia anterior, quando as imagens de 15 santos e virgens saem de suas paróquias e chegam a Catedral da cidade. Às 9 da manhã há uma missa. Após seu término, os devotos saem em procissão carregando as 15 imagens pela Plaza Mayor, completamente lotada de devotos, estudantes dos colégios locais, bandas musicais e turistas.
Cada santo conta com seus fieis e suas tradições. A São Sebastião, os fiéis o carregam descalços. A São Blas, com terno e chulo, aquele gorro típico peruano. A imagem de São Jose carrega o menino Jesus, que tem em uma das suas mãos uma caixa de prata, onde os fiéis depositam suas orações para que vendam melhor. A imagem de São Jerônimo é trazida a pé pelos fiéis por 10 quilômetros.
Durante todo o dia, você escuta músicas e os sinos da Catedral. Nas proximidades da Plaza Mayor, o povo acompanha toda a festividade com a comida típica da festa, o tradicional Chiriuchu, feito com porquinho da índia assado, galinha, embutidos, queijo, milho tostado e rocoto, uma pimenta local. Claro que encontra-se também todas as outras comidas serranas típicas.
Ao final da procissão, as 15 imagens são novamente guardadas na Catedral onde ficarão por uma semana para “saudar” o corpo de Cristo. No oitavo dia, há uma nova celebração para retorno das imagens às 15 paróquias pertencentes.
Uma curiosidade: estudos dizem que a origem dos festejos de Corpus Christi em Cusco se deu pelos espanhóis, a fim de terminar com a festa pagã realizada pelos “filhos do Sol” que faziam uma procissão de múmias incas no período. Os missionários substituíram os venerados restos humanos por imagens de santos e virgens.
Corpus Christi em Cajamarca
Principal festa religiosa da cidade, sua fama atravessa as fronteiras e é bastante comentada em todo o país, lotando a cidade de turistas.
Na noite anterior a data, todos os acessos a Plaza Mayor da cidade são fechados e o povo, escolas, instituições publicas e privadas começam um trabalho delicado e de muito amor para confecção dos famosos tapetes por onde caminhará a procissão de Corpus Christi. O trabalho dos fiéis só acaba com o raiar do sol no outro dia.
Em Cajamarca, os quase 40 tapetes, diferentemente dos tapetes brasileiros e europeus, não são feitos com flores e sim com serragem tingida de anilina, gravetos e giz.
A celebração começa quando o andor sai da igreja com seis sacerdotes e Cristo recebe sua primeira homenagem. Os personagens masculinos realizam manobras acrobáticas, enquanto as mulheres dançam se exibindo. Logo, todos se calam e se ajoelham diante da cruz. É a representação da evangelização.
A procissão se inicia e o andor percorre, durante uma hora, toda a praça principal da cidade e volta ao altar da Catedral. É celebrada uma missa e assim termina oficialmente a festa.
Nas ruas, porém, o povo continua com música e comidas típicas, na feira gastronômica realizada, até o final do dia.
Inti Raymi (24/06)
O Inti Raymi era a mais importante cerimonia religiosa dos incas, que celebravam o Sol no dia mais curto do ano, o Solstício de Inverno e o início do novo ano inca. Atualmente, todo dia 24 de junho é realizado na região de Cusco uma reprodução desta celebração. Eu contei tudo sobre a festa no post Inti Raymi.
Dia de São João (24/06)
Estudando sobre a festa no Peru, reforçou a mim a idéia da Festa de São João estar relacionada com lendas e tradições bem antigas. Apesar de ser um festejo católico, a sua celebração coincide com festas pré-hispânicas ligadas ao solstício de inverno. A gente percebe uma mistura muito interessante de tradições católicas com culturas internacionais importadas e cultura regional.
Em Tacna, por exemplo, é noite de fogueiras, porque se acredita que é a noite mais fria do ano, pelo Solstício de Inverno, o mesmo celebrado pelos incas na Inti Raymi.
Na crença popular andina, é também o melhor dia para ler a sorte na coca, ritual andino realizado pelos yatiris, que seriam como curandeiros.
São João na Selva Peruana
Para os povos da Amazônia Peruana, no entanto, a Fiesta de San Juan é a principal festa do ano por ser São João o padroeiro da Amazônia. É celebrada com muito fervor em todos os povoados da selva. Regiões como Amazonas, San Martín, Huánuco, Loreto, Madre de Dios, entre outros, preparam seus festejos com muita música, dança, feiras e diversão.
Hoje, vemos o sincretismo de ter uma festa combina a tradição de São João Batista, homem que batizou Jesus, e a reverencia a água, elemento especial para as comunidades indígenas.
Já no dia 23, como preparação à data, o povo costuma banhar-se nos ricos para se purificar. O ato é conhecido como “el baño bendito”. Eles creem que, nesta data, São João abençoa o curso das águas e um banho trará felicidade e saúde durante todo o ano.
Na noite do dia 23, grupos éticos amazônicos também acendem fogueiras para gerar calor e energia, pois acreditam que assim avivarão a imaginação e abrirão um mundo de fantasias. Usam as cinzas para curar doenças. Estes costumes vem de antigos rituais pagãos para afastar maus espíritos.
Os povos da selva também acreditam que, a partir da meia noite do dia 24, podem colher ervas medicinais para serem penduradas nas janelas e assim receber as bênçãos de São João.
No dia 24, acontece a missa em celebração ao santo e uma procissão acompanhada de música típica da região. Ao final, realiza-se uma dança em grupos (seriam quadrilhas??) ao redor de uma palmeira cheia de presentes.
Na festa de São João peruana também existe comida típica. Dizem que o povo toma café, almoça e janta o Juane, que tem uma forma arredondada para representar a cabeça decapitada de São João. O prato típico é feito com arroz, ovos e vísceras de galinha, enrolados em folha de bijao acompanhado de molho de cebola e pimenta de cocona.
A cidade de Iquitos, a mais famosa e turísticas das cidades amazônicas, é onde se encontra a melhor expressão da festa, estendida agora à Semana Turística de Iquitos.
Dia de São Pedro e São Paulo (29/06)
Data religiosa bastante famosa no Brasil, aqui no Peru é feriado nacional desde o início da República. A importância da data não é exclusivamente por ser o Dia de São Pedro, mas também porque marca o vínculo do Peru como nação católica e sua ligação com o Vaticano, chamado aqui de Santa Sede.
Há festividades em todo o país, sendo mais forte no litoral já que São Pedro era pescador na Galileia, antes de tornar-se discípulo de Jesus e pedra fundamental da Igreja Católica. É, como no Brasil, o padroeiro dos pescadores.
No Peru, no dia 29, por São Pedro ser considerado o primeiro Papa, nomina-se como Dia do Papa, mas a maior festa acontece mesmo no mar.
Em Lima, durante todo o dia 29, a tradição é a procissão marítima em honra de São Pedro, que sai a partir da baía de Chorrillos. Na ocasião, barcos acompanham o barco principal que leva imagens de São Pedro e São Paulo em tamanho real e músicos cantando louvores. Fiéis levam flores e presentes e lotam toda a região baixa do bairro.
Decidindo passear em junho pelo país, é importante decidir se quer ou não participar desses festejos e assim, traçar o roteiro certo para aproveitar o máximo sua estadia. Espero que o texto tenha atiçado sua curiosidade e, “tropeçando” em alguma festa, lembre de nós.
Para quem quer visitar efetivamente alguma das festas citadas aqui, o site da Promperu é um ótimo ponto de busca inicial.
6 Comments
Vivian Grabowski
15/06/2017 at 22:15Muito bom, super interessante a cultura, gostei muito!
Manu Tessinari
20/06/2017 at 00:00Que bom! Obrigada!!
Isabel
15/06/2017 at 12:52Adorei este ultimo post, me deixou mais culta kkkk
Manu Tessinari
15/06/2017 at 18:14Viu? O Cup também é cultura! 😉
ALCEU LOURES MACUCO
15/06/2017 at 12:13Como sempre, post excelente! parabéns e obrigado.
Manu Tessinari
15/06/2017 at 18:13Obrigada a você pelo elogio e por nos acompanhar.