Visitando o Mistura 2014

Quem nos acompanha no Instagram (segue a gente! @cupofthingsblog) viu que, durante a semana passada, estávamos no Mistura, a feira gastronômica que acontece todos os anos, em setembro, aqui em Lima. Apesar de irmos todos os anos, este ano tivemos a oportunidade de estar presentes, como imprensa, durante os 10 dias do evento, conhecendo tudo por outros ângulos. Pense você na nossa empolgação!

Mas, antes de mergulhar no mundo do Mistura, preciso comentar um pouco sobre a APEGA – a Sociedade Peruana de Gastronomia, criadora do Mistura. A APEGA se constituiu a partir da união de agricultores, chefs, escolas de gastronomia e entusiastas da culinária nacional ao decidirem somar forças para facilitar toda articulação necessária para alavancar o ‘boom gastronômico’ que começava a tomar forma. Esta união não só os fortaleceu como ‘instituição’, mas também trouxe uma direção, promovendo a culinária peruana como base da identidade cultural e do desenvolvimento econômico nacional. Bandeiras como a conservação da biodiversidade, a importância do produtor agrícola para o mercado e a formação de novos profissionais capacitados fizeram com que a APEGA se tornasse, em pouco menos de oito anos, uma das principais instituições promotoras da gastronomia mundial.

Com este conceito em mente, surgiu a boa idéia de desenvolver um evento onde produtores, executores e consumidores dividissem um mesmo espaço, e assim nasceu a feira Mistura, que é, hoje, o maior evento gastronômico da América do Sul. A gente sempre comenta o quanto a gastronomia e a culinária estão presentes no cotidiano do peruano mas é bonito ver a valorização da cadeia de produção. Desta maneira, o Mistura representa nada menos que a grande celebração anual e o principal meio de divulgação desse complexo e bem sucedido processo.

Como chegar ao Mistura

Os ingressos são vendidos antecipadamente pelo site do evento ou pela empresa Teleticket, que está instalada dentro dos supermercados Wong ou Metro. É possível também comprá-los na hora, mas a fila pode ser demorada e somente ingressos para o dia. A meu ver, o melhor é comprar com antecedência no Teleticket. Como em todo lugar, existem cambistas na porta vendendo ingressos, mas aí é por sua conta e risco. O valor do ingresso é de S/. 25,00 adulto e S/. 15,00 crianças.

Para chegar até o evento, você pode ir de ônibus, carro particular ou taxi. De ônibus Metropolitano, é perto, mas você terá que caminhar do ponto até a feira, passando por uma passarela, descendo e subindo escadas. Para alguém com dificuldade de locomoção ou com preguiça de andar, não é o acesso mais fácil. De carro, eu desaconselho, devido ao intenso tráfego e ao número insuficiente de vagas de estacionamento. Nós fomos e voltamos todos os dias de táxi. Na feira, havia ponto de taxi seguro nas saídas principais e as empresas estavam ainda com descontos especiais para o Mistura. Como sempre íamos em duas ou três pessoas, então era o que mais compensava em todos os aspectos.

O Ambiente do Mistura

Pra começar, é uma feira para o povo. Se engana quem pensa que vai chegar e comer com toda pompa e circunstância, como nos renomados restaurantes da cidade. A qualidade da comida é inquestionável, mas o grande ‘tchan’ do Mistura é justamente proporcionar ao cidadão comum, que não tem acesso a determinados restaurantes, a possibilidade de provar alguns de seus pratos. A feira, que está desde o ano passado num espaço gigantesco na Costa Verde (a.k.a. calçadão na beira da praia), é muito bem estruturada. Possui algumas áreas cobertas e outras abertas e o chão é de terra batida. Isso significa sapato e roupas confortáveis e fáceis de limpar, por favor!

Existem muitas áreas cobertas com mesas e cadeiras pra que os visitantes possam comer tranquilamente, sem precisar sentar no chão ou ficar em pé. Durante a semana é bem mais tranquilo conseguir um lugar cômodo para sentar comer, mas, até no último sábado, dia que estava mais cheio, conseguimos mesa sem grandes dificuldades. O 3G ali na Costa Verde funciona pessimamente, mas a feira oferece alguns pontos com acesso livre ao wi-fi pra quem quiser se manter conectado.

A respeito da segurança, é uma feira, né?! Como é que você vai pra eventos desse tipo no Brasil? Mesma coisa aqui. Eu particularmente me sinto bastante segura. Pelo trabalho, acabamos levando conosco todos os dias além do telefone, câmeras, tablet e não tivemos problema algum, mas, como em qualquer lugar com um grande volume de pessoas, é bom ser cuidadoso com seus pertences, porque imprevistos podem acontecer. Evite levar todos os documentos, bolsas cheias, celulares em fácil acesso.

O que você encontra no Mistura

Há algum tempo, eles implantaram o conceito dos ‘mundos’, onde as comidas ficam agrupadas por categorias, de forma que os visitantes tenham maior facilidade em encontrar o que querem comer. Este ano, os Mundos do Mistura foram: Brasas e Anticuchos (tudo que se prepara com um bom carvão), Mundo Cervejeiro (produtos comerciais e artesanais), Mundo do Norte e Mundo do Sul (comidas típicas destas regiões do país), Mundo Criollo (mescla das culinárias da colônia espanhola com a dos escravos), Mundo Andino e Amazônico, Mundo dos Sanduíches (os BBB’s da cidade, ótima chance para provar mais de um), Mundo das Cevicherías, Mundo Chifa e Nikkey (mescla das culinárias peruana com a chinesa ou japonesa, respectivamente), Mundo dos Doces, Mundo dos Pães, Mundo do Pisco e Vinhos e, finalmente, os Bares. É possível encontrar também pratos vegetarianos, caso alguém não consuma produtos animais. Tem pra todos os gostos!

Para consumir, é necessário comprar tickets, que são vendidos separadamente ou por pacotes de S/. 20,00, S/. 50,00 ou S/. 100,00. Ao entrar na feira, você já encontra os caixas onde pode fazer a compra (dica: os caixas localizados no meio da feira estão sempre mais vazios). Os pratos mais caros custam S/. 16,00 (no nosso caso, foi um porco ao cilindro) e os mais baratos S/. 3,00 (um mini cupcake).

Além dos Mundos, o Mistura tem ainda o Gran Mercado, onde se tem acesso a produtos agrícolas vindos de todos os cantos do país a preços mais acessíveis do que num mercado comum e o Gran Auditório, onde acontece apresentações folclóricas, aulas de gastronomia e premiações. Para as crianças, a APEGA fez o Mundo infantil, onde as crianças brincam aprendendo sobre cultivo e culinária, e o Aquário.

Outro ponto emocionante da feira é o prêmio Rocoto de Ouro, em que APEGA reconhece as personalidades e as organizações que trabalham pela biodiversidade e a nutrição no Peru. Este ano o prêmio foi pra um casal de senhores (senhores mesmo, mais de 80 anos) naturais da província de Tacna e que nunca haviam estado em Lima, pela recuperação e cultivo produtivo em um andene (aqueles patamares construídos em pedra e terra que vemos em Machu Picchu, sabe?! O Peru possui mais de 700 mil hectares de andenes que são terras férteis, mas a maioria está improdutivo).

Já para os estudantes e entusiastas da gastronomia, o ponto alto são os três primeiros dias do Mistura, quando acontece o Qaray, um encontro gastronômico internacional que conta com a presença de inúmeros chefs reconhecidos mundialmente. Este evento é, entretanto, pago à parte do Mistura e possui toda uma programação especial. Eles têm, por princípio, posicionar a gastronomia como agente transformador, dando um sentido ético a profissão, e é em torno disso que todas as palestras e discussões são criadas.

O Mistura é um passeio que não tem fim. A cada edição, com cada expositor, podemos ver, provar e, principalmente, aprender muita coisa nova e diferente. Sem contar que é de sentir o amor de forma quase palpável em cada prato, cada ingrediente e cada sorriso. De encher não só os olhos e a barriga, mas principalmente a alma.