Quando eu era criança, meus pais trabalhavam e eu e minha irmã passávamos muito tempo com meus avós maternos. Fomos e somos as únicas netas, então, pensem numas crianças com liberdade naquela casa?! Balança no quintal, amarelinha pintada no chão do corredor, bolinha de sabão gigante no pátio, tinta, isopor, madeira, massa… tudo e qualquer coisa que estivéssemos dispostas, ali púnhamos em prática.
Com a fome não poderia ser diferente, podíamos comprar o doce que quiséssemos mas, a comida, quem fazia, era vovó. Às vezes tínhamos algum pedido mas, quase sempre, seu cardápio era simples e certeiro. Comida de verdade feita com amor e paciência para as duas netas, não tinha como dar errado.
Hoje, com 89 anos, vovó já não cozinha mais e é frequente para mim as memórias dos sabores nunca mais sentidos. Receitas que saíram de moda, temperos não mais usados, idade e dieta restritiva que chegam na nossa vida para ficar.
É incrível como a memória do paladar é forte e, às vezes, sem querer, um biscoitinho qualquer nos leva a uma viagem tão intensa no tempo que quase não queremos voltar.
Agora, imagine um restaurante que sirva, somente, pratos assim, afetivos. Esse é o Isolina. Ninguém precisa ser peruano para sentir ali o gosto de lembrança, do afeto, da mesa farta rodeada pela família e do clima caseiro que é comum à todos nós, independente de onde tenhamos nascido.
O chef José Del Castillo viu, na homenagem ao trabalho de sua mãe, a oportunidade de reascender o paladar dos peruanos (e estrangeiros) aos encantos da comida caseira. Isolina, a mãe homenageada, que sustentou a família com o restaurante La Red, também dá sua colaboração nesse projeto que é a cara da tradição peruana à mesa. Aberto em 2015, o Isolina já integrou, no ano passado, a lista dos 50 melhores restaurantes da América Latina 2016.
Não é preciso ser peruano para sentir o clima familiar impresso em tudo no Isolina: A casona de 1900 em Barranco, remodelada e decorada de forma rústica, repleta de iluminação natural, as louças pintadas à mão e as baixelas de àgata que imprimem delicadeza e simplicidade a personalidade do local, o cardápio escrito a mão e o atendimento simpaticamente acelerado dos garçons, tornam a experiência toda algo com o qual é impossível não se identificar.
O fato de não termos memória afetiva dos pratos ali servidos, não impede, em nada, que as criemos ali, naquele momento. Estofado de res (tipo o nosso ‘cozido’), lomo saltado, arroz tapado (com ovo mole e banana frita! S2) são dos pratos que nós, brasileiros, nos identificamos facilmente! Na minha humilde opinião, o cebiche servido com chicharrón de pulpo (polvo empanado e frito) é imbatível. Peixe fresco, tempero ideal, nem muito picante, nem muito ácido, e o polvo no ponto perfeito, sem estar chiclete nem duro. Simplesmente magnífico. Sua ida até lá vale só por ele.
No cardápio estão também opções mais típicas, menos unânimes mas, nem por isso, impopulares, como a tortilla de sesos (sesos = cérebro), fígado acebolado, riñoncitos al tinto (isso mesmo, rim + vinho), entre outras iguarias… Sou sincera, não as provei. Por pré-conceito mesmo, shame on me. Porém, ressalto que não conheço ninguém que as tenha provado sem aprová-las – quem come coisas tão particulares já é mais aberto e têm meu respeito, portanto, considero suas opiniões importantes a ponto de serem mencionadas aqui.
Meus amigos peruanos são unanimes em dizer que a comida parece mesmo a que comiam na casa da avó, e isso cumpre a principal proposta do restaurante. As bebidas também merecem um tempinho da sua atenção, afinal, um lugar que serve pisco sour cortesia aos clientes que estão esperando por mesas, sabe bem o que faz.
Os preços são razoáveis, não tão baixos como se espera de um lugar onde os pratos são compartilhados mas, a experiência de comer algo tão tradicional, é recompensadora. Durante a semana, tente reservar pois a espera é certa para quem chega após as 13h30 e, aos finais de semana, eles não aceitam reservas.
É um lugar para ir com a certeza de que sairá de lá com uma memória feliz. As minhas já estão ao lado das comidas da vovó. Aposto que você encontrará um espaço para essas novas memórias também. 😉
Onde?
Isolina Taberna Peruana
Av. San Martín Prolongación, 101
Barranco – Lima
Tel: +51 247-5075
4 Comments
ana luisa
11/03/2017 at 19:01seria na quinta dia 23/03, fiquei muito feliz com a atencao que vcs etao tendo
Ana luisa
10/03/2017 at 17:17Olá, seria dia 23 uma quinta feira, pois queríamos algo animado mas sem ser boate e sem ser restaurante. Muito obrigada
Ana Luisa Flor
07/03/2017 at 14:56ola, estou buscando uma dica de um local especial ( animado, boa comida e bebida e boa musica)para comemorar o aniversario de 40 anos do meu marido em lima. estaremos com 3 casais e nao estou conseguindo encontrar nada que me encante. encontrei com muito gosto o blog de vcs, e resolvi pedir essa ajuda.
nas minhas pesquisas encontrei o Picas Bar, nas sei se de fato ele é bom, mas seria algo assim que busco, poderiam me ajudar??
Manu Tessinari
10/03/2017 at 11:02Oi Ana, sua pergunta me inspirou a fazer um post. Entra na terça! Vou te dar 5 sugestões! Mas que dia da semana seria?